Eu escolhi esperar, Edward Cullen, Sixpence None the Richer e o crepúsculo do amor pueril

Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida. (Pv 4.23)

Primeiramente, gostaria de fazer um esclarecimento a respeito do ministério Eu Escolhi Esperar (a fim de facilitar a escrita e leitura, adotarei a sigla EEE). Volta e meia faço algum comentário em tom de piada com amigos no facebook e geralmente recebo alguma advertência considerando meu comentário pejorativo. A respeito disso, deixe-me dizer o seguinte:

Confesso que não conheço pessoalmente o ministério. Do pouco que já procurei ler a respeito, me parece ser válido e admirável a iniciativa de incentivar jovens cristãos a se guardarem para o casamento e esperarem para realmente “se entregarem” a um relacionamento somente quando for algo verdadeiramente abençoado por e para a glória de Deus. Tenho amigos respeitáveis e confiáveis que compartilharam excelentes experiências com o EEE. Pelo que tudo indica (assumindo aqui minha falta de pesquisa aprofundada), a considero uma iniciativa genial que tem meu total respeito e apoio no que se refere ao objetivo de se guardar para Deus. Se em algum momento ofendi alguém com tais comentários, peço perdão. Não foi minha intenção criticar o ministério EEE.

Porém…

As piadas minhas e de meus amigos giram em torno não do EEE em si, mas talvez sejam mais em torno daqueles que usam o bordão “eu escolhi esperar” da maneira errada. Explico:

Já não sei quantas vezes vi algum slide de PowerPoint postado no facebook com o lema. Geralmente, é uma foto em preto e branco de um jovem casal à beira de um penhasco ou num cenário paradisíaco com o pôr-do-sol ao fundo. Os dois estão abraçados (de maneira um tanto sensual, creio eu) e o menino geralmente está beijando a testa da menina. O uso dos termos “menino” e “menina” não foi acidental. É coisa de criança mesmo. Para piorar as coisas, geralmente usam algum versículo completamente fora de contexto para dar uma temática cristã à imagem, que geralmente tem milhares e milhares de compartilhamentos nas redes sociais. O texto mais comumente usado é 1 Co 13, que se tornou quase que uma petição desesperada de adolescentes apaixonados. Se por um lado criticam a teologia da prosperidade justamente por usar textos fora de contexto, por outro estão no mesmo poço.

Há também aquelas pessoas que assumem uma postura quase que hiper calvinista referente ao namoro no sentido de que “Deus é soberano e a predestinada virá independente da minha vontade”. Por mais que eu creia que Deus é soberano sobre tudo e todos (inclusive a pessoa com quem nos casamos, mas isso é papo pra outro post), essa postura para mim tem outro nome: frouxidão. Por demais vezes vejo pessoas que não se dispõem ao mínimo esforço para encontrar alguém ou sequer se prepararem para ser uma pessoa digna de um relacionamento. Não estou dizendo que todo e qualquer caso de pessoas que são solteiras por um longo período são esse tipo de gente, absolutamente. Deus tem sua vontade para cada pessoa. A atitude (ou falta dela) que descrevo é algo diferente. É uma falta de coragem e caráter de assumir o seu papel como homem ou mulher segundo os planos de Deus. Entre os amigos, criamos informalmente o “Eu escolhi fazer algo a respeito” ou “Eu não escolhi esperar”. Ainda estou pensando seriamente em criar a alternativa calvinista ao EEE, o “Eu não tive escolha senão esperar”. Afinal, escolher é característica dos arminianos. (Brincadeira, tá gente? Exercerei meu “livre arbítrio” para bloquear quaisquer comentários sobre essa discussão nesse post.)

DF-01935.JPGEntão como é que o EEE se encaixa nisso? Creio que ele é refém, de certo modo, das paixonites infantis que muitos jovens cristãos têm. Carência é normal e saudável, afinal, Deus criou Eva porque viu que Adão estava só. Porém, o que se vê é uma paixão e expectativa desesperadas e cegas à espera do(a) “ungido(a) separado(a)” do Senhor. A menina ou menino lê os livros do Crepúsculo ou qualquer saga sobrenatural romântica e ouve Cristina Perri e Jason Mraz (nada contra, adoro “93 million Miles”) até dizer chega e depois se lamenta por não encontrar seu jovem cristão carinhoso montado num cavalo branco com uma Bíblia em baixo do braço e 1 Co 13 na ponta da língua. Esquecem que qualquer pessoa que encontrarem será um pecador, tal qual ele ou ela é. Sonham e “se guardam” para aquele menino de pele lisa clarinha que brilha no sol que esperou séculos para encontrar sua amada. Sabe por que isso não acontece? Bem, primeiro porque Edward Cullen não existe. E se existisse, duvido que ele seria cristão. Na minha época a trilha sonora da adolescência carente era “Kiss me” do Sixpence None the Richer*.

*Num caso paralelo cômico, há quinze anos quando eu e meus amigos estávamos aprendendo a tocar violão, essa foi uma das primeiras músicas que pegamos. Bastava tocar as primeiras três notas que as meninas já começavam a suspirar. Era tão eficaz que nunca tive que aprender a tocar o resto da música. Enfim… voltando para Deus e o amor real.

Tudo isso para dizer o seguinte: namoro, relacionamentos e casamento são um papo MUITO sério. Não posso enfatizar isso o suficiente. É no mínimo assustador a conclusão de Paulo ao trecho de Efésios 5.21-32, onde ele descreve a relação entre marido e mulher:

Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja.

Este trecho merece livros e mais livros de exegese, o devido tratamento teológico, perícia e tempo que não tenho para expôr. Mas o que quero dizer é o seguinte: romance, amor, relacionamento, namoro, isso tudo é coisa MUITO séria! Não é uma brincadeira para crianças. Eu, pessoalmente, defendo que namoro deveria ser apenas para maior de idade, mas também sei que há menores de idade com cabeça e responsabilidade para encarar isso com o devido cuidado. Seja como for, namoro, em hipótese alguma deve ser tratado à luz de uma cultura pop egoísta, nojenta e depravada. Namoro é sim um assunto altamente bíblico, pois não se pode pensar sobre ele sem falar, obrigatoriamente, sobre casamento e vida com Cristo. Por que você acha que a Bíblia usa justamente a metáfora do casamento para descrever a igreja? O noivo que vem buscar sua noiva para as bodas?

Se você está precisando de instrução nessa área (quem não precisa?), recomendo fortemente os seguintes livros escritos por pastores piedosos e comprometidos com a honra e glória de Deus, em primeiro lugar, e com a sua vida com Cristo.

Se não estiver com tempo ou acesso a esses livros, recomendo o blog do Andrew (este que vos fala) e mais alguns citados abaixo na coluna de links recomendados como, em especial, o blog de uma amiga querida e piedosa recém-casada com uma ótima perspectiva sobre o assunto. Aliás, ela acabou de escrever um texto em duas partes chamado Um namoro redimido?, que você pode acessar aqui: Parte 1 e Parte 2.

Resumindo…

Se você escolheu esperar em Deus entendendo o seu papel e a sua devida responsabilidade, você merece o meu apoio e admiração. Que Deus lhe capacite para continuar neste caminho difícil que é a juventude solteira com Cristo. Se você, porém, acha que pode simplesmente pegar seus desejos pecaminosos e travesti-los com um tom “gospel”, tome vergonha na cara e vire um homem ou uma mulher conforme a Palavra de Cristo. Você faz um desfavor a si mesmo e é uma ameaça à integridade do próximo se pretende apenas “experimentar” antes de assumir um compromisso de verdade.

Encerro com as palavras de Paulo aos Coríntios e os encorajo: glorifique a Deus com o seu corpo, alma e coração. Não há outro digno de tal devoção e entrega.

Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês. (1 Co 6.19,20)

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26 comentários sobre “Eu escolhi esperar, Edward Cullen, Sixpence None the Richer e o crepúsculo do amor pueril

      1. Realmente, ela manda muito bem! Recentemente encontrei os blogs de vocês e tenho amado as leituras! E quanto a esse texto, e a parte do “eu escolhi fazer alguma coisa”, tem um livro do Kevin DeYoung praticamente com esse título (“Faça alguma coisa!”) que fala sobre o tema em vários aspectos, inclusive quanto a relacionamento! Leitura também recomendadíssima! Acho que ajuda quanto ao “fazer alguma coisa a respeito” que foi perguntado aqui nos comentários, além dos ótimos blogs que você indicou (Mulheres Piedosas e Um mais um). 😉

  1. Recomendaria também o ‘Deus, casamento e família – Reconstruindo o fundamento bíblico’, do Andreas J. Köstenberger. Apesar do título, tem uma ótima parte sobre solteirice.

  2. Pouco antes de abrir minha caixa de emails, onde recebo as atualizações deste blog, eu estava pensando na minha atual condição, acima sugerida e na qual me identifiquei, ““Eu não tive escolha senão esperar”, e cheguei a uma breve conclusão: quando eu meu casar, viverei pelo resto da vida com o meu esposo e não voltarei a ter a vida que tenho hoje, sendo solteira e dividindo a vida em um apto com minha irmã (que já dura 4 anos é só temos crescido em companheirismo fraterno). Então, senti paz após muito tempo, entendendo que cada momento é único, e lá adiante não vai dar pra voltar onde já estive. Pessoalmente tem sido frustrante ver enxurradas de indiretas desesperadas de amigos e amigas no FB, que expõem esta condição civil aos quatro cantos, enquanto seria muito mais agradável esta fase focando em outras coisas, e seguindo, se preparando de maneira branda para o encontro com o tão sonhado amor da sua vida.
    Ps.: Dá pra criar ainda: “Eu escolhi esperar e não divulgar diariamente meu estado civil desesperado”, rs…

  3. hey,
    já ouvi falar do “EEE” mas como você, não o conheço de perto. Acredito que seja válido que o jovem busque no Senhor, ore continuamente a respeito de sua futura/o amada/amado. Não penso que seja correto que ele espere que uma placa caia em sua frente dizendo “é essa pessoa aqui”, sabemos que não é assim que Deus age. Mas tenho certa dificuldade em concretizar meu raciocínio quanto a maneira como uma jovem deve agir. Ela não pode ficar sentada esperando que seu ‘príncipe a encontre e o sapatinho sirva’. Mas enquanto essa mocinha vai aprendendo e sendo preparada para ser uma boa esposa futuramente, não é um tanto estranho uma menina ‘sair a procura’? o que seria ‘fazer alguma coisa a respeito’?

    1. Uma ótima pergunta para a qual, infelizmente, não tenho uma resposta tão completa assim devido ao fato de sempre pensar da perspectiva masculina. Creio que cabe à mulher ter uma atitude de “estar disponível”, não no sentido de se oferecer, mas de se mostrar sociável e disposta a se envolver com a igreja, com um grupo de amigos e até de respeitar os homens que venham a procurá-la. Algumas meninas assumem uma postura sempre de defesa, se fecham e nunca deixam ninguém chegar perto por nunca considerarem alguém à sua volta “bons o suficiente”. Faz sentido?

      Bem, essas são apenas minhas hipóteses. Há blogs escritos por meninas que podem lhe dar algo muito mais proveitoso do que tentei fazer acima. Mas, o mais importante, creio eu, é não idealizar o amor nem a forma em que ele pode aparecer. Recomendo alguns links lá no pé da página. Procure o “um mais um” e o Meninas piedosas. Elas geralmente têm bons conselhos para dar.

      Abraço,

      A

  4. Incrivel esse texto(digno de ser compartilhado)…e necessario que todos os jovens tenham essa visao correta de relacionamento e da seriedade.Assim teriam menos pessoas com coracoes partidos…

  5. Eu amei o texto, eu não sei se é pq estou muito cansada, passei a manhã com a cara em livros, mas quando li: Deus é soberano e a predestinada virá independente da minha vontade e a outra que dizia que esperar é coisa de arminiano ou então a proposta do eu não tive escolha senão esperar, me perdoa, eu tive crises de riso sucessivas. Muito instrutivo seu texto Andrew e obrigada pelos risos.

  6. Porque tão poucas pessoas meditam tão pouco (repetição de palavras necessária) a respeito de um assunto tão vital (comparação do casamento com Cristo e Igreja)? Pessoalmente, nunca ouvi ninguém explanar sobre isso por mais de 10 minutos.. é como você disse:

    “Este trecho merece livros e mais livros de exegese, o devido tratamento teológico, perícia e tempo que não tenho para expôr.”

    e, depois do que li nesse post, com certeza os versículos que tratam do assunto estarão na lista dos próximos que vou meditar e estudar.

    1. Pegue 1 Coríntios 6.12-20. Olhe só o uso dos termos “uma só carne”, “templo de Espírito Santo”, por exemplo. Pense sobre porque que Paulo encerra um texto sobre fornicação mencionando o sacrifício de Cristo. É de se espantar mesmo a relação entre os dois. Isso sem contar Efésios, conforme respondi no post.

      Abraço,

      A

  7. Boa abordagem sincera sobre o assunto.
    Eu tb já fui mal interpretado ao expor opiniões, tb já me excedi e irei principalmente com pessoas que assumidame não conhecem pessoalmente o assunto e não souberam tratar com sinceridade e cuidado que Vc teve.
    .
    Mas e aí, que tal visitar o EEE com a gente um dia?

  8. Gostei muito de seu texto, há um tempo escrevi um parecido no meu blog. Estava meio cansada de ver as pessoas se frustrando por esperarem alguém perfeito e pior, colocarem toda essa carga nos colos de Deus, ao invés de só viverem suas vidas e se relacionarem com as pessoas e daí sim escolherem alguém pra compartilhar o resto de sua caminhada. É um pouco grande, mas se te interssar … http://coisasdatainara.blogspot.com.br/2013/05/esperando-em-deus.html

  9. Excelente texto. Por mim, observo que os jovens solteiros, tanto mulheres como homens, e me refiro à faixa acima de 25 anos – já formados, bem colocados no mercado de trabalho, desenvolveram (me parece) uma espécie de “medo” e essa questão de nunca encontrar alguém “bom o suficiente” tanto para eles como para elas, e mesmo não gostando da solidão, demoram a tomar atitude. Ou nunca tomam. Motivados por uma espiritualidade exagerada, tenho visto muito disso, coisa de “tem de orar muito pra decidir”, “veja o que aconteceu com Fulano, por isso digo que a gente ttem que orar muito antes de casar”…ai, ai…

  10. Acho muito bonito quem toma essa decisão de esperar. Hoje em dia muitos casais “pulam” a fase do namoro e já vão direto para os finalmentes…Muito legal quem espera

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